sábado, 15 de agosto de 2009

Mural: Antes de ontem, ontem e hoje – Pequena introdução

O nosso blog tem como foco principal o acompanhamento e documentação do processo de restauração do mural da UFG, de D.J. Oliveira. Como a arte muralista passou a fazer parte da arte em Goiânia?
Em primeiro lugar precisamos nos lembrar do percurso da arte no século XX, com as vanguardas cubistas, surrealistas, futuristas, etc. Essas vanguardas, do início do século passado, tinham a forma como uma de suas maiores preocupações. Todas essas investigações formais iriam influenciar um outro movimento também desse século - o Muralismo. As pinturas em parede são comuns em várias culturas e sociedades e encontramos referências até nas pinturas feitas em cavernas há milhares de anos. Já são vistos em paredes de templos e tumbas no Antigo Egito, na Grécia, nas cidades do império romano, como Pompéia, e nos afrescos do renascimento.
No século XX, o movimento muralista teve grande força, principalmente no México, com artistas como José Clemente Orozco (1883 – 1949), Diego Rivera (1886 – 1957), David Alfaro Siqueiros (1896 -1974). O Muralismo Mexicano teve forte impacto em toda a América Latina, influenciando vários artistas e tendo estreitos laços com os movimentos da esquerda política. O movimento, no México, tinha temáticas de forte cunho social e ideológico, uma preocupação com os trabalhadores, abordando a exploração capitalista, as origens indígenas e a colonização espanhola.
No Brasil vários artistas foram influenciados por este movimento, como Cândido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti dentre outros. Assim as influências do Muralismo se estendem por todo o país, levando muitos artistas modernistas a possuírem mais uma variante técnica em sua obra. D.J. Oliveira é um exemplo: pintor e gravador teve influência tanto dos muralistas mexicanos quanto de Cândido Portinari.

Alguns murais e muralistas:

José Clemente Orozco
Nasceu em 1883, em Ciudad Guzmán, Jalisco, no México e morreu no México, em 1949. Frequentou a Academia de Bellas Artes de San Carlos e a Escuela Nacional Preparatória, no curso de arquitetura. Sua obra aborda a revolução, o povo e o sonho de se construir uma sociedade nova.

Deuses do Mundo Moderno, detalhe do mural O Épico da Civilização Americana. Detalhe do mural de José Clemente Orozco na Biblioteca Baker, Dartmouth College, Hanover, New Hampshire.








Essas pinturas no mural (aqui um detalhe)retratam uma intrincada e atraente narrativa que abrange a história das Américas, que começa com o aztecas no México e terminando com o desenvolvimento da nossa sociedade industrial moderna. O mural compreende 24 cenas e aproximadamente 3,200 metros quadrados. (Fonte).

Diego Rivera
Rivera nasceu em Guanajato, em 1886 e morreu em 1957. Estudou na Academia de Bellas Artes de San Carlos, no México, e viajou para a Europa aos 21 anos, com uma bolsa de estudo, onde ficou até 1921. Conhece os principais movimentos artísticos da época, como o cubismo e o surrealismo e viaja por diversos países. Se encontrou com Picasso, conheceu Juan Gris e teve influências deste artista.



Mural de Diego Rivera, O homem numa encruzilhada / O homem controlador do universo, Palacio de Bellas Artes, México, 1935.

Este mural intitulado El hombre en una encrucijada foi encomendado 1930. Já muito afamado Rivera recebe encomendas de murais para o Detroit Institute of Arts e para o Rockefeller Center de Nova York. O mural encomendado pelo Rockefeller Center foi batizado por Rivera como “Homem na encruzilhada”. A obra apresenta o cenário ideológico da época, um embate de dois sistemas econômicos de produção: o capitalista e o socialista. Depois de receber inúmeras críticas por ter Rivera incluído o rosto de Lênin na mesma, Rockefeller Jr. tomou-a como ofensa e a pintura foi coberta por um tempo e finalmente destruída. Posteriormente o pintor reconstruiu-a no Palácio de Belas-Artes, na Cidade do México sendo então rebatizado de “O homem controlador do universo”, mas desta vez com algumas modificações, como por exemplo, a presença de Rockefeller Jr de maneira um tanto quanto sinistra, enigmática. Portanto, ironicamente do lado esquerdo do mural encontra-se Rockefeller Jr engravatado e semi-encoberto por uma grande hélice, cercado por pessoas comuns e ostentando um enorme anel de ouro. Também estão retratados Charles Darwin, Vladmir Lênin, Leon Trotsky e Karl Marx.
Fonte: RUSSELL, André. Lênin apagado: Diego Rivera e o muralismo bolchevique. Disponível em: http://www.historianos.art.br/. Acesso em 2009.

Cândido Portinari
Candido Portinari nasce no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café, em Brodósqui, no interior do Estado de São Paulo, morreu em 6 de fevereiro de 1962, intoxicado pelas tintas. Em 1928 conquista o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Parte em 1929 para Paris, onde permanece até 1930.Longe de sua pátria, saudoso de sua gente, decide ao voltar ao Brasil, no início de 1931, retratar em suas telas o povo brasileiro, superando aos poucos sua formação acadêmica e fundindo à ciência antiga da pintura, uma personalidade moderna e experimentalista.


Desbravamento da Mata
1941
Pintura mural a têmpera
316 x 431cm
Washington, D.C.
Assinada e datada no canto inferior esquerdo "PORTINARI 1941"
Library of Congress, Washington, D.C.,USA


Os murais de Portinari possuem uma identificação com os temas da pátria, como os ciclos econômicos, a chegada dos portugueses ao Brasil, os heróis nacionais como Tiradentes, a exploração da mão de obra escrava tanto dos povos indígenas quanto dos negros. Nesse mural, “Desbravamento da Mata”, Portinari retrata as entradas rumo ao oeste das terras brasileiras, então colônia de Portugal, as Bandeiras. Fonte: http://www.portinari.org.br/

Di Cavalcanti
Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro pintor. Falece no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1976. Di Cavalcanti freqüenta o atelier do impressionista George Elpons e torna-se amigo de Mário e Oswald de Andrade. Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo em Paris até 1925. Freqüenta a Academia Ranson. Expõe em diversas cidades: Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Retorna ao Brasil em 1926 e ingressa no Partido Comunista. Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a Paris e cria os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.



Murais de Di Cavalcanti no Teatro João Caetano (Detalhe). Óleo sobre parede. 4,5 x 5,5m. 1931.


Apesar de sua obra ser predominantemente de pintura em tela, Di Cavalcanti também realizou alguns murais, como este. Os painéis de temática musical do pintor Di Cavalcanti foram pintados a óleo diretamente sobre a parede do foyer superior. As datas 1931 e 1964 grafadas sob a assinatura registram respectivamente o ano da pintura e o da intervenção feita pelo autor mesmo. Na obra estão presentes as características que irão se tornar assinatura de sua obra: As formas volumosas das figuras, o bronzeado dos personagens numa referência clara à miscigenação e uma das, ou talvez a temática predileta: as mulatas.

Fontes:http://www.dicavalcanti.com.br/ http://www.inepac.rj.gov.br/

D.J. Oliveira
Já conhecemos a biografia de D.J. Oliveira e as imagens do mural feito por ele na UFG. Mas Oliveira realizou inúmeros murais ao longo de sua carreira. Um particularmente interessante é esse, realizado em Palmas, no Tocantins, no Palácio Araguaia. As cenas são de diferentes períodos da história, mostradas em simultaneidade. A cena inicia-se com a igreja e termina com o discurso de comemoração do governador pela divisão do estado de Tocantins. As cenas mostram os personagens em diferentes situações e em contextos e espaços diversos. A obra possui doze metros de comprimento e é uma síntese da história de criação do estado.
Fonte: GOYA, Edna de Jesus. A Gravura Como Meio de Comunicação: Processo de Criação de D.J. Oliveira. Tese de doutorado, São Paulo, 2006.








História do Estado do Tocantins. Acrílico sobre aglomerado, 2,20 x 12 m, 2002.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O que é Patrimônio?

De um jeito ou de outro sempre topamos com essa palavra por aí: “patrimônio”. Seja em etiquetas coladas em objetos de instituições públicas, em periódicos, na mídia televisiva, etc. Mas o que vem a ser efetivamente “patrimônio”?
No dicionário patrimônio é classificado assim:

Substantivo Masculino.
1. Herança paterna.
2. Bens de família.
3. Bens necessários para tomar ordens eclesiásticas.

Mas vamos ampliar esse conceito. Patrimônio também é nossa herança cultural e histórica, ou como diz a Unesco, (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) “O patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações. Nosso patrimônio cultural e natural é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa pedra de toque, nosso ponto de referência, nossa identidade.” É por isso que o patrimônio é tão importante, porque nele nós nos apoiamos para construir o futuro e analisar o presente com um olhar mais agudo. A partir do patrimônio, seja ele natural ou cultural, que construímos quem somos. Mas o que é Patrimônio Natural? Bom, como o nome já diz, é da natureza, dado pela natureza. Ou em termos técnicos, de acordo com a Convenção do Patrimônio Mundial de 1972 da Unesco:
“- Os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico;
- As formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação;
- Os locais de interesse naturais ou zonas naturais estritamente delimitadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, conservação ou beleza natural”.

Mas, será que podemos ver algum exemplo de patrimônio natural? Claro! Um exemplo são os Parques Naturais de Ischigualasto e Talampaya na Argentina, o Parque Nacional das Emas e Chapada dos Veadeiros no Brasil, em Goiás. Certo?!















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Mas e o Patrimônio Cultural? De acordo com a mesma Convenção de 1972, Patrimônio Cultural são:
“Os monumentos: obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
- Os conjuntos: grupos de construções isolados ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
- Os locais de interesse: obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os sítios arqueológicos, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico”.

Exemplos? O Santuário Shinto de Itsukushima, no Japão, e no Brasil: Brasília, Ouro Preto e o Centro Histórico da Cidade de Goiás.




















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Todos os patrimônios dados como exemplos são reconhecidos pela Unesco. Mas não precisamos de rótulos para identificar e preservar os patrimônios de nossa cidade e de nossa cultura. Temos o dever de preservar nossa memória, porque se nos tornarmos amnésicos em busca apenas do imediato e do consumível descartável, nós mesmos nos tornaremos... descartáveis!