quinta-feira, 18 de junho de 2009

Conservar para não restaurar - A formação do professor de artes visuais

A necessidade da pesquisa sobre “A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA CONSERVAÇÃO DE PATRIMÕNIO ARTÍSTICO E CULTURAL NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTE, ATRAVÉS DA RECUPERAÇÃO DO MURAL DA UFG, DE D. J. OLIVEIRA” dar-se-á pelo fato de se entender que não basta se habilitar o professor para formar o fruidor/consumidor, produto de arte e cultura ou o freqüentador de espaços artísticos e culturais, mas que este também seja capaz de desenvolver em seus alunos a sensibilidade para a permanência desses patrimônios, por meio da formação de uma consciência crítica sobre a conservação e preservação de seus bens imateriais, socialmente construídos, além de despertar os alunos o gosto por esta área de formação. É claro que se pretende também despertar a consciência de ambos – professor e alunos – para a questão da conservação e preservação mais amplamente, especialmente no que se refere ao patrimônio público, a exemplo da própria escola a que o aluno freqüenta, entendido pela sociedade como “coisa de ninguém”. A preocupação da pesquisa é trabalhar o conceito de “preservar” para não “restaurar”.
No ano de 1971 o ensino de artes passa a ser oficializado, na escola regular, na Segunda Fase do Ensino Fundamental (5ª à 8ª séries), pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5.692/71. Com a obrigatoriedade do ensino de arte surge a necessidade de se formar profissionais para atender a demanda. A partir de então se criam, no Brasil, em 1973, os primeiros cursos de formação do professor de artes, com as Licenciaturas Curtas, passando posteriormente à licenciatura plena, em nível de graduação.
Todavia, é importante lembrar que a primeira experiência de criação de cursos para formar professor de arte é goiana, com o curso de Professorado de Desenho. O curso nasce da reforma na EGBA, para atender à Lei n.º 4.464 de 9 de novembro de 1964, que propõe uma reorganização didática dos cursos, classificando-os em:
· curso de formação (graduação);
· curso de especialização profissional (curso livre em que o aluno se especializava em uma modalidade artística), e
· cursos extraordinários.
Por meio da criação do Curso de Arquitetura, a instituição buscava fortalecer as Artes e resgatar a Arquitetura, que havia sido desvinculada da ENBA, mesmo contra a vontade de diversos professores, como Jordão de Oliveira e Lúcio Costa.
Os alunos do curso de Formação de Professorado de Desenho, único à época regulamentado pelo MEC, é criado sob Parecer n.º 599/66, cursavam as disciplinas voltadas para a formação educacional: Psicologia da Educação, Elementos de Administração Escolar, Didática Geral, Didática Especial e Complementos de Matemática, na Faculdade de Filosofia.
No Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, atual FAV/UFG, o curso de formação de professores de arte começa em 1974, com a Resolução nº 333 do CCEP, que fixa o currículo pleno do Curso de Licenciatura em Educação Artística. No currículo foi observado que os assuntos conservação e recuperação não fazem parte da grade curricular.
De 1973 para cá muitas mudanças ocorreram nos currículos de Licenciatura, inclusive em relação à nomenclatura do curso, que passa de Educação Artística para Ensino de Arte, a partir de 2005. Conseqüentemente acontecem mudanças quanto à Grade Curricular. Mas os assuntos conservação e recuperação continuam a não fazer parte das grades dos cursos de formação de professores de arte da FAV/UFG.
Também acontecem mudanças no que se refere a normatização desse ensino na escola regular, que passa a ser considerado como área de conhecimento e não mais “Atividade” dentro do Currículo de Comunicação e Expressão, como deliberava a antiga LDB/1971. Com a LDB nº 9.394/96, a arte torna-se área de conhecimento, como qualquer outra área, portanto obrigatório, nas escolas oficiais, de Segunda Fase do Ensino Fundamental e Médio.
Todavia, embora se perceba que os currículos que tratam da formação do professor de arte tenham sofrido várias alterações desde sua criação e tenha avançado, em meados da década de 90, ainda assim serão necessárias novas mudanças. No novo currículo da FAV/UFG, implementado a partir de 2001, muitas inovações aconteceram, com à inclusão de muitas questões novas, pertinentes à formação desse profissional, a exemplo do aumento da carga horária de estágio, que passa de 128 horas (de 1 ano) para mais de 416, passando para dois anos e meio ou 5 semestres, privilegiando a escola pública, formal e informal.
Também foi acrescentado ao currículo à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que proporciona ao aluno maturidade, pois lhe permite elaborar um projeto de ensino de arte e colocá-lo em ação na escola. Também é inserido no currículo o termo Cultura Popular, antes Folclore Brasileiro, entre outros assuntos. Todavia, ainda se percebe que muito outros temas ainda precisam ser inseridos no currículo do curso de formação de professore de arte, a exemplo de noções de Antropologia da Arte e de Psicologia da Arte.
Um outro tema que não pode ser esquecido e que deverá fazer parte da formação do professor são as orientações sobre frequentação[1] a espaços artísticos e culturais. O professor de arte é o responsável pela formação de hábitos, atitudes e comportamento frentes aos espaços artísticos e culturais, cabendo a ele ter ainda noções de conservação e recuperação de obras, assuntos que são Elementos de Museologia, disciplina da Grade Curricular do curso de Graduação, em Artes, da ECA/USP e hoje da PUC/SP, que orienta sobre restauração e Conservação.
Analisando os cursos de artes, oferecidos pelas Universidades Federais e Estaduais, de 26 estados brasileiros, e um do distrito Federal, constatamos um total de 71 Universidades entre Federais e Estaduais, e constatamos que em apenas onze (11) são oferecidos o curso de Artes Visuais – Bacharelado ou Licenciatura. Destas, apenas duas (2), a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e a ECA/USP têm em seu currículo, matérias relacionadas aos Elementos de Museologia: conservação de obras de artes.Também foi constatado que dos três estados formadores da região Centro Oeste nenhuma Universidade ou Faculdade, Federal ou Estadual, apresentam nos seus cursos de licenciatura, em artes, matérias direcionadas a Elementos de Museologia, o que obriga aos futuros professores de artes, ou interessados na área da conservação de obras de artes do estado de Goiás a se deslocarem para outros estados à procura de especializações e cursos técnicos na área.
A necessidade desses assuntos é para dar orientações ao professor, para que ele possa discutir esses temas em sala de aula, pois além de desenvolver no aluno atitudes de freqüentação a espaços artísticos e culturais poderá dar noções sobre Conservação e Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural, pois é ao profissional da arte-educação que cabe a responsabilidade de fazer, pelos conteúdos, a mediação dos bens artísticos e culturais à escola, para formar não somente o consumidor de arte e cultura, mais também um conhecedor e produtor mais atuante e crítico.
O tema Conservação e Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural, Elementos da Museologia têm papel fundamental para se desenvolver no futuro professor, conseqüentemente no aluno de arte, a consciência de que os bens Artísticos e Culturais são patrimônios públicos, portanto, pertencentes a todas as sociedades. São produtos socialmente construídos, mas que para serem apreciados/fruídos/visitados será necessário que a sociedade os conserve, ou seja, ela precisa ser alfabetizada visualmente, para compreender seus códigos de leitura pelo domínio da Gramática visual, mas que esse processo somente será possível se houver conservação/recuperação para que as gerações futuras possam conhecer as suas memórias.
A necessidade de uma formação, nesta área, para o professor, dá-se por se ver muitas obras de arte, na capital goiana, sendo destruídas, a exemplo do Mural da Praça Universitária. Esta obra, no decorrer de sua existência, sofrera várias intervenções, físicas, inclusive destrutivas, por parte de vândalos, por desconhecerem a importância dessa obra, e de muitas outras, para a memória cultural da cidade. Observa-se ainda que outros bens como os da arquitetura da cidade de Goiânia, em estilo Art Decò, encontram-se comprometidas pela mesma sociedade que a contempla. Embora a apreciem/fruam também as destroem por não saber conservá-la ou não compreender o seu significado.
Com orientações nesta área o professor de arte estaria atento para incluir em seus programas de curso, no ensino Básico: Fundamental e Médio este assunto tão importante para a sobrevivência do patrimônio artístico cultural, ao formar um público não apenas capaz de apreciar/fruir a arte/cultura, mas também capaz de conservar a sua riqueza cultural e memória coletiva.
A proposta do projeto é aproveitar-se do processo de recuperação da obra para se produzir material didático para se discutir o assunto, forma de recuperar a lacuna que existe no atual currículo que trata da formação do professor de arte, elaborado pela FAV/UFG/2001-2003. O que queremos é dar aos alunos do Curso de Artes Visuais – Licenciatura a oportunidade de ter contato direto com essa área problemática da arte e levá-lo a conhecer e adquiri experiência, ainda que teoricamente neste assunto.
Quer-se colocar o aluno em contato com o trabalho do restaurador, para que conheça, de perto, o procedimento de recuperação de uma obra: os propósitos, os meios, os diferentes métodos, os materiais e os conceitos. Para tanto, o aluno, bolsista, deverá acompanhar os passos do processo de trabalho a ser desenvolvido pelo responsável pela recuperação da obra: discutir, registrar e fotografar os procedimentos, para que com os dados ele possa construir um texto que sirva de referência para o aluno do curso de arte e para os professores.
É claro que não se pode esquecer da necessidade de se formar um professor com uma visão mais abrangente, e que seja interessado pela pesquisa, sem se esquecer da capacidade dele de articulação das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Essa experiência permitirá ao professor compreender o processo e mediar com mais segurança os seus conhecimentos.
Com a pesquisa o aluno/professor poderá ampliar os seus conhecimentos, conseqüentemente os seus gestos/ações de educar, ou seja, poderá descobrir pelo ensino possibilidades para a pesquisa e para a produção de novos saberes. Outra preocupação que nos leva a explorar a experiência de recuperação do mural na formação do professor é despertar o aluno para esta área do conhecimento que é a restauração, intrinsecamente relacionado à arte e seu ensino.
A recuperação do Mural da UFG vem ressaltar ainda a preocupação e o esforço da Faculdade de Artes Visuais, da Universidade Federal de Goiás, para com a preservação do patrimônio cultural, não só da UFG, mas de toda a cidade, já que a obra – o Mural - faz parte dos bens imateriais da cultura goiana. Considera-se importante que a experiência de recuperação do Mural da UFG sirva de aprendizado para os alunos do Curso de Artes Visuais – Licenciatura, haja vista a raridade de se ter a oportunidade de tal aprendizado.
Além do desgaste natural e temporal da obra ela sofre o desgaste decorrente de agressões, físicas, praticadas por pixadores, pessoas que ainda não se atentaram para o valor das obras artísticas e para o patrimônio arquitetônico exposto na cidade de Goiânia e pelo país afora. Por não entenderem que o patrimônio pertence à todos é muito comum, em nosso país, visitantes de espaços culturais levarem para suas casas um pedacinho da obra visitada como lembrança.
Espera-se que a partir do acompanhamento do trabalho de recuperação da obra, que deverá ser feito in loco, e da elaboração do relatório, seja possível se desenvolver material didático, para a realização de ações educativas, em favor da educação para a compreensão e conservação do patrimônio artístico e cultural. As palestras, elaboradas a partir do relatório, serão realizadas para alunos do Curso de Artes Visuais – Licenciatura, e professores e do Ensino Básico: Fundamental e Médio, que atuem no ensino de arte.
[1] Fre.qu.en.tar  é um verbo transitivo e significa:ir repetidas vezes a qualquer lugar; conviver constantemente com; ver alguém amiudadas vezes; viver na intimidade de; consultar amiúde uma obra ou um autor; cursar. Substantivofre.qu.en.ta.ção feminino Acto ou efeito de frequentar; Conversação habitual; Trato. Obtido em http://pt.wiktionary.org/wiki/frequenta%C3%A7%C3%A3o

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